Um grande passo na transição do deus tribal—o deus a quem se tinha servido já há tanto tempo com sacrifícios e cerimônias, o Yavé dos hebreus mais primitivos—até um Deus que puniria o crime e a imoralidade, até mesmo entre os do seu próprio povo, foi dado por Amós, que surgiu de entre as colinas do sul para denunciar a criminalidade, a embriaguez, a opressão e a imoralidade das tribos do norte. Desde os tempos de Moisés que essas verdades ressoantes não eram proclamadas na Palestina.
Amós não se limitou meramente a restaurar ou a reformar; ele era um descobridor dos novos conceitos da Deidade. Ele proclamou, sobre Deus, muito daquilo que tinha sido anunciado pelos seus predecessores e, corajosamente, investiu contra a crença em um Ser Divino que toleraria o pecado entre aqueles do chamado povo escolhido. Pela primeira vez, desde os tempos de Melquisedeque, os ouvidos do homem ouviam a denúncia da duplicidade de padrão da justiça e da moralidade nacional. Pela primeira vez na sua história os ouvidos hebreus escutaram que o seu próprio Deus, Yavé, não toleraria o crime e o pecado nas vidas deles, mais do que ele os tolerava junto a qualquer outro povo. Amós visualizou o Deus austero e justo de Samuel e Elias, mas ele também viu um Deus que não via os hebreus de modo diferente de qualquer outra nação quando se tratava da punição ao procedimento incorreto. Isso era um ataque direto à doutrina egoísta do “povo escolhido”, e muitos hebreus daquela época ressentiram-se amargamente disso.
Disse Amós: “Buscai aquele que fez as montanhas e criou o vento, que formou as sete estrelas e Órion, que transforma a sombra da morte na manhã e faz o dia escurecer na noite”. E, ao denunciar os seus companheiros de meia religião, como oportunistas, e algumas vezes, como de imorais, ele buscava retratar a justiça inexorável de um Yavé imutável, quando ele disse aos malfeitores: “Ainda que eles penetrem no inferno, de lá Eu tirá-los-ei; ainda que eles subam ao céu, de lá Eu farei com que desçam”. “E ainda que eles caiam em cativeiro diante dos seus inimigos, até lá Eu conduzirei a espada da justiça e ela matá-los-á.” Amós surpreendeu ainda mais aos seus ouvintes quando, apontando um dedo de reprovação e de acusação para eles, declarou em nome de Yavé: “Com certeza nunca me esquecerei de nenhum dos vossos feitos”. “E passarei no crivo a casa de Israel, junto com todas as nações, como o trigo tem de ser passado na peneira.”
Amós proclamou Yavé o “Deus de todas as nações” e advertiu aos israelitas, de que o ritual não deve tomar o lugar da retidão. E antes que esse corajoso instrutor fosse apedrejado até a morte, ele tinha já espalhado suficientemente o fermento da verdade para salvar a doutrina do supremo Yavé; ele assegurara a continuidade da evolução da revelação de Melquisedeque.
Oséias veio depois de Amós, com a sua doutrina de um Deus universal de justiça por meio da ressurreição do conceito mosaico de um Deus de amor. Oséias pregou o perdão por meio do arrependimento, não pelo sacrifício. Ele proclamou um evangelho de amor-bondade e a divina misericórdia dizendo: “Eu te desposarei para sempre; sim, eu me unirei a ti na retidão e no julgamento e no amor-bondade das misericórdias. Eu desposar-te-ei mesmo na fé”. “Eu amá-lo-ei livremente, pois a minha ira foi-se embora.”
Oséias continuou fielmente com as advertências morais de Amós, dizendo de Deus: “É do meu desejo que eu os castigue”. Mas os israelitas consideraram como uma crueldade que beirava a traição quando ele disse: “Eu direi àqueles que não eram do meu povo: ‘vós sois o meu povo’; e eles dirão: ‘Tu és o nosso Deus’”. Ele continuou a pregar o arrependimento e o perdão, dizendo: “Eu curarei a apostasia deles; e amá-los-ei livremente, pois a minha ira terminou”. Oséias sempre proclamou a esperança e o perdão. A carga da sua mensagem foi sempre: “Eu terei misericórdia para com o meu povo. Eles não conhecerão outro Deus além de Mim, pois não há outro salvador além de Mim”.
Amós vivificou a consciência nacional dos hebreus para o reconhecimento de que Yavé não iria fechar os olhos para o crime e o pecado entre eles, porque supostamente eles eram o povo escolhido, enquanto Oséias tocou as notas de abertura nas cordas misericordiosas posteriores da compaixão e do amor-bondade divinos, que foram tão extraordinariamente cantadas por Isaías e pelos seus agregados.