Um grupo de mais de trezentos habitantes de Jerusalém, de fariseus e outros, seguiu Jesus até o norte de Pela, quando ele tratou de sair da jurisdição dos governantes judeus, ao final da Festa da Dedicação; e foi na presença desses instrutores, de líderes judeus e dos doze apóstolos, que Jesus fez o sermão sobre o “Bom Pastor”. Depois de meia hora de conversa informal, dirigindo-se a um grupo de cerca de cem pessoas, Jesus disse:
“Tenho muito para falar-vos nesta noite e, visto que muitos de vós sois meus discípulos, e outros, meus inimigos mordazes, irei apresentar o meu ensinamento por meio de uma parábola, de modo que cada um possa tirar, para si próprio, aquilo que for mais bem recebido pelo seu coração.
“Nesta noite e diante de todos nós, estão muitos daqueles que se disporiam a morrer por mim e por este evangelho do Reino e muitos deles oferecer-se-ão desse modo, nos anos que virão; em meio a vós, estão também alguns escravos da tradição, que me seguiram desde Jerusalém e que, junto com os seus líderes iludidos, estando nas trevas, tentam matar o Filho do Homem. A vida, que ora vivo na carne, julgar-vos-á a todos, os verdadeiros pastores e os pastores falsos. Se os pastores falsos fossem cegos, não teriam nenhum pecado; no entanto, como afirmais ver e professais ser instrutores em Israel, o vosso pecado, assim, recairá sobre vós.
“O verdadeiro pastor reúne seu rebanho no abrigo, à noite, em tempos de perigo. E, quando chega a manhã, ele entra no abrigo pela porta e chama as ovelhas e,assim, elas conhecem a sua voz. Todo pastor que tem entrada no curral por qualquer outro meio que não seja pela porta é um ladrão e um saqueador. O pastor verdadeiro só entra no abrigo depois que o porteiro lhe abriu a porta e suas ovelhas, conhecendo a sua voz, vêm, atendendo ao seu chamado; as ovelhas que lhe pertencem, assim, se adiantam, e o pastor verdadeiro vai à frente delas, mostrando-lhes o caminho e as ovelhas o seguem. As ovelhas seguem-no porque conhecem a sua voz; elas não seguiriam a um estranho. E fugirão do estranho porque não reconhecem sua voz. Essa multidão de pessoas, que se reúne em torno de nós, é como ovelhas sem um pastor, e, pois, quando lhes falamos, elas identificam a voz de pastor e nos seguem; aquelas que têm fome da verdade e que têm sede de retidão, ao menos, o fazem. Alguns de vós não sois do meu aprisco; não conheceis a minha voz; e não me seguis. E, porque sois falsos pastores, as ovelhas não conhecem a vossa voz nem vos seguirão”.
E, quando Jesus acabou de narrar essa parábola, ninguém lhe fez nenhuma pergunta. Após um certo tempo ele retomou a palavra e continuou com a análise da parábola:
“Vós, que gostaríeis de ser os pastores auxiliares dos rebanhos do meu Pai, deveis, não apenas ser líderes condignos, mas deveis também alimentar o rebanho com um bom alimento; só sereis pastores verdadeiros se conduzirdes os vossos rebanhos a pastos verdejantes e à beira de águas tranqüilas.
“E, agora, para que alguns de vós não julgueis que essa parábola é muito fácil de compreender, eu vos declaro que sou as duas coisas, tanto sou a porta para o rebanho do Pai, quanto, ao mesmo tempo, sou o verdadeiro pastor dos rebanhos do meu Pai. Todo pastor que tentar entrar no abrigo sem mim irá fracassar e as ovelhas não ouvirão a voz dele. E, junto com aqueles que ministram comigo, eu estou à porta. Toda alma que entrar no caminho eterno, pelos meios que eu criei e ordenei, será salva e tornar-se-á capaz de continuar o caminho pelos pastos eternos até o Paraíso.
“Sou também o verdadeiro pastor que está disposto a dar a sua vida pelas ovelhas. O ladrão entra no abrigo apenas para roubar, para matar e destruir; mas eu vim para que todos vós possais ter a vida, e tê-la mais abundantemente. Aquele que é um mercenário, quando chega o perigo, fugirá e deixará as ovelhas serem dispersadas e destruídas; mas o verdadeiro pastor não fugirá quando o lobo vier; ele protegerá o seu rebanho e, se necessário, dará a própria vida pelas suas ovelhas. Em verdade, em verdade, vos digo, amigos e inimigos, eu sou o verdadeiro pastor; conheço os meus e os meus me conhecem. Não fugirei em face do perigo. Concluirei esta obra satisfazendo a vontade do meu Pai, e não abandonarei o rebanho que o Pai confiou à minha guarda.
“Todavia, possuo muitas outras ovelhas que não são deste aprisco; e essas palavras são verdadeiras não apenas para este mundo. Essas outras ovelhas também conhecem e ouvem a minha voz; assim, prometi ao Pai que todas seriam trazidas ao mesmo aprisco, que é a fraternidade dos filhos de Deus. E então todos vós conhecereis a voz do único pastor, o verdadeiro pastor, e todos reconhecereis a paternidade de Deus.
“E assim sabereis por que o Pai me ama e por que colocou todos os seus rebanhos desse domínio nas minhas mãos, para que eu os guarde; é porque o Pai sabe que não vacilarei na salvaguarda do aprisco, que não abandonarei as minhas ovelhas e, se for necessário, não hesitarei em colocar a minha própria vida a serviço dos seus múltiplos rebanhos. Mas, lembrai-vos, se der a minha vida, eu a terei de volta. Nenhum homem, ou qualquer outra criatura pode tirar a minha vida. Eu tenho o direito e o poder de dar a minha vida, e tenho o mesmo poder e direito de tê-la de novo. Vós não podeis compreender isso, mas eu recebi essa autoridade do meu Pai antes mesmo de que este mundo existisse”.
Quando ouviram essas palavras, seus apóstolos ficaram confusos, seus discípulos, atônitos; enquanto os fariseus de Jerusalém e arredores partiram na noite dizendo: “Ele é louco ou está possuído por um demônio”. Mas mesmo alguns dos instrutores de Jerusalém disseram: “Ele fala como quem tem autoridade; e, além disso, quem viu alguma vez um possuído pelo demônio abrir os olhos de um homem que nasceu cego e fazer todas as coisas maravilhosas que este homem tem feito?”
No dia seguinte, metade desses instrutores judeus professava a sua crença em Jesus, e a outra metade, consternada, retornou aos seus lares em Jerusalém.