Jesus, Gonod, e Ganid fizeram cinco viagens para fora de Roma, até pontos de interesse, em territórios vizinhos. Na sua visita aos lagos italianos, ao norte, Jesus teve uma longa conversa com Ganid a respeito da impossibilidade de ensinar a um homem sobre Deus, se o homem não deseja saber de Deus. Eles tinham encontrado casualmente um pagão irrefletido durante essa viagem aos lagos, e Ganid ficou surpreso de que Jesus não seguiu a sua prática usual de atrair o homem para uma conversa que naturalmente conduziria ao discorrer sobre as questões espirituais. Quando Ganid perguntou ao seu Mestre por que ele demonstrara tão pouco interesse nesse pagão, Jesus respondeu:
“Ganid, aquele homem não tinha fome da verdade. Não estava descontente consigo próprio. Não estava pronto para pedir ajuda e os olhos de sua mente não estavam abertos para receber luz para sua alma. Aquele homem não se encontrava maduro para a colheita da salvação; deve ser-lhe dado mais tempo para que as provações e dificuldades da vida preparem-no para receber sabedoria e conhecimento superiores. Ou, se pudéssemos tê-lo vivendo conosco, poderíamos, por meio das nossas vidas, mostrar a ele o Pai no céu; e assim ele ficaria tão atraído pelas nossas vidas, como filhos de Deus, que seria forçado a indagar sobre nosso Pai. Tu não podes revelar Deus àqueles que não O procuram; não podes conduzir almas relutantes às alegrias da salvação. É preciso que as experiências da vida proporcionem ao homem ele vir a ter fome da verdade; ou então, ele deve estar desejando já conhecer Deus, em conseqüência do resultado do contato com as vidas daqueles que conhecem o Pai divino, antes que outro homem chegue a poder ser útil em conduzir esse semelhante mortal ao Pai no céu. Como conhecemos Deus, o nosso trabalho real na Terra é viver de um modo tal que permita ao Pai revelar-Se nas nossas vidas a fim de que, assim, todas as pessoas que buscam a Deus vejam o Pai e peçam a nossa ajuda para melhor conhecerem sobre o Deus que, dessa maneira, se expressa nas nossas vidas”.
Foi na visita à Suíça, subindo as montanhas, que Jesus teve uma conversa durante todo o dia com o pai e o filho sobre o budismo. Muitas vezes Ganid havia feito perguntas diretas a Jesus sobre Buda, mas tinha sempre recebido respostas evasivas de algum modo. Agora, na presença do filho, o pai fez a Jesus uma pergunta direta sobre Buda e recebeu uma resposta direta. Disse Gonod: “Eu gostaria realmente de saber o que tu pensas de Buda”. E Jesus respondeu:
“O vosso Buda foi muito melhor do que é o vosso budismo. Buda foi um grande homem e, mesmo, um profeta para o seu povo; mas foi um profeta órfão. Com isso, quero dizer que ele perdeu de vista, muito cedo, o seu Pai espiritual, o Pai do céu. A experiência dele foi trágica. Ele tentou viver e ensinar como um mensageiro de Deus, mas sem Deus. Buda guiou a sua nave de salvação diretamente até o porto da salvação, até a entrada do ancoradouro de salvação para os mortais e, por causa de planos errados de navegação, a boa nave ficou encalhada, à deriva. E assim tem permanecido durante muitas gerações; imóvel e quase desesperadamente encalhada. E, muitos dentre os do vosso povo têm permanecido assim, durante todos esses anos; vivendo a uma curta distância das águas seguras do repouso, mas se recusando a chegar até lá porque a nobre embarcação do bom Buda teve a má sorte de encalhar no fundo, do lado de fora do porto. E o povo budista jamais conseguirá entrar nesse porto, a menos que abandone filosoficamente a embarcação do seu profeta e que entenda o seu nobre espírito. Tivesse o vosso povo permanecido fiel ao espírito de Buda, e vós teríeis já há muito entrado no vosso porto de tranqüilidade espiritual, de descanso da alma e segurança de salvação.
“Tu vês, Gonod, Buda conhecia Deus em espírito, mas evidentemente não teve êxito em descobri-lo na mente; os judeus descobriram Deus na mente, mas não tiveram êxito em conhecê-lo em espírito. Hoje, os budistas debatem-se em uma filosofia sem Deus, enquanto o meu povo está deploravelmente escravizado ao medo de um Deus, sem uma filosofia salvadora de vida e de liberdade. Vós tendes uma filosofia sem um Deus; os judeus têm um Deus, mas mantêm-se primariamente sem uma filosofia de vida ligada a esse Deus. Buda, por não ter tido êxito em conceber uma visão de Deus, como espírito e como Pai, não teve êxito também ao prover o seu ensinamento com a energia moral e o poder espiritual impulsor que uma religião deve possuir, se quiser mudar uma raça e elevar uma nação”.
E então exclamou Ganid: “Mestre, façamos tu e eu uma nova religião, que seja boa o suficiente para a Índia e grande o bastante para Roma e, talvez, possamos levá-la até os judeus em troca de Yavé”. E Jesus retorquiu: “Ganid, as religiões não são criadas assim. As religiões dos homens levam grandes períodos de tempo para crescer; enquanto as revelações de Deus reluzem sobre a Terra, nas vidas dos homens que revelam a Deus para os seus semelhantes”. Mas eles não compreenderam o significado dessas palavras proféticas.
Naquela noite depois que se recolheram, Ganid não pôde dormir. Ele conversou durante um longo tempo com o seu pai e finalmente disse: “Sabes, pai, algumas vezes eu penso que Joshua é um profeta”. E o seu pai respondeu, sonolento: “Meu filho, há outros...”
Desde esse dia, pelo resto da sua vida natural, Ganid continuou a desenvolver uma religião dele próprio. Ele estava persuadido fortemente, dentro da própria mente, com a grandeza de Jesus, pela sua eqüidade e tolerância. Em todas as conversas que tivera com Jesus, sobre a filosofia e a religião, esse jovem nunca experimentou ressentimentos nem reações de antagonismos.
Que cena para as inteligências celestes contemplarem: esse espetáculo do jovem indiano propondo, ao Criador de um universo, que eles elaborassem uma nova religião! E, embora o jovem não o soubesse, eles estavam fazendo uma nova e eterna religião, exatamente ali e naquele momento—um novo caminho de salvação: a revelação de Deus ao homem feita por Jesus, e em Jesus. Aquilo que o jovem mais queria fazer ele estava, inconscientemente, realizando de fato. E assim foi, e é, sempre. Tudo aquilo que a imaginação humana, iluminada, bem refletida e conduzida pelo ensinamento espiritual, está na busca de fazer e de ser, de todo o coração e sem egoísmos, torna-se um meio criativo mensurável pelo nível da dedicação com que o mortal se põe a fazer divinamente a vontade do Pai. Quando o homem entra em comunhão com Deus, grandes feitos podem acontecer e de fato acontecem.
Tradução Portuguesa © Fundação Urântia. Todos os direitos reservados.