Durante a sua estada em Jopa, Jesus conheceu Gádia, intérprete filisteu que trabalhava para Simão, curtidor de couro. Os agentes de Gonod na Mesopotâmia haviam feito muitas transações com esse Simão; por isso Gonod e o seu filho queriam visitá-lo no seu caminho a Cesaréia. Durante essa visita a Jopa, Jesus e Gádia tornaram-se bons amigos. Esse jovem filisteu era um buscador da verdade. Jesus era um provedor da verdade; ele foi a verdade para aquela geração em Urântia. Quando um grande buscador da verdade e um grande provedor da verdade encontram-se, o resultado é um esclarecimento grande e liberador que surge da experiência da nova verdade.
Certo dia, após a refeição da noite, Jesus e o jovem filisteu passeavam pela orla do mar, e Gádia, não sabendo que este “Escriba de Damasco” era tão versado nas tradições dos hebreus, apontou a Jesus o ancoradouro do qual, supostamente, Jonas havia embarcado na sua desafortunada viagem a Tarses. E quando concluiu as suas observações, fez a Jesus esta pergunta: “Mas tu crês que o grande peixe de fato engoliu Jonas?” Jesus percebeu que a vida desse jovem tinha sido tremendamente influenciada por essa tradição e que a contemplação desse episódio inculcara nele a idéia disparatada de fugir ao dever; Jesus então não disse nada que fosse destruir subitamente o fundamento da motivação atual de Gádia para a vida prática. Jesus disse, em resposta a essa questão: “Meu amigo: todos nós somos Jonas, com vidas para viver de acordo com a vontade de Deus e sempre que tentamos fugir do dever que se nos apresenta, escapando na direção de tentações estranhas, colocamo-nos sob o controle imediato das influências que não são dirigidas pelos poderes da verdade nem pelas forças da retidão. A fuga ao dever é o sacrifício da verdade. Escapar ao serviço, à luz e à vida, só pode resultar nesses conflitos exaustivos, com as difíceis baleias do egoísmo, que levam finalmente à obscuridade e à morte, a menos que esses Jonas, que abandonaram a Deus, voltem os seus corações, ainda que estejam nas profundezas do desespero, à procura de Deus e sua bondade. E, quando essas almas assim desencorajadas, procuram Deus sinceramente—em fome de verdade e sede de retidão—, nada há que as mantenha limitadas ao cativeiro. Seja qual for a profundidade na qual se hajam mergulhado, quando procuram a luz, de todo o coração, o espírito do Senhor Deus dos céus irá libertá-las do seu cativeiro; as circunstâncias malignas da vida as arrojarão em alguma terra firme plena de oportunidades frescas, de serviço renovado e de vida mais sábia”.
Gádia comoveu-se muito com o ensinamento de Jesus e eles conversaram longamente, noite adentro, junto à orla do mar e, antes que voltassem para os seus alojamentos, oraram juntos e um pelo outro. Esse era o mesmo Gádia que escutou a pregação posterior de Pedro, convertendo-se em um profundo crente de Jesus de Nazaré, e que manteve um debate memorável com Pedro, certa noite na casa de Dorcas. E Gádia muito teve a ver com a decisão final de Simão, o abastado mercador de couros, de abraçar o cristianismo.
(Nesta narrativa do trabalho pessoal de Jesus com os seus semelhantes mortais, na sua viagem pelo Mediterrâneo, nós iremos, de acordo com a permissão recebida, traduzir livremente as suas palavras no estilo moderno usado em Urântia à época desta apresentação.)
O último encontro de Jesus e Gádia teve a ver com a discussão sobre o bem e o mal. Esse jovem filisteu estava bastante conturbado por um sentimento de injustiça, que lhe era trazido pela presença do mal junto com o bem, no mundo. Ele dizia: “Como pode Deus, se é infinitamente bom, permitir que soframos as penas do mal; afinal, quem cria o mal?” Naquele tempo, muitos ainda acreditavam que Deus cria tanto o bem como o mal, mas Jesus nunca ensinou tal erro. Para responder a essa questão, Jesus disse: “Meu irmão, Deus é amor e, portanto, Ele deve ser bom; e a Sua bondade é tão grande e real que não pode conter as coisas pequenas e irreais do mal. Deus é tão positivamente bom que não há absolutamente nenhum lugar Nele para o mal negativo. O mal é a escolha imatura e o passo impensado daqueles que são resistentes à bondade, que rejeitam a beleza e que são desleais com a verdade. O mal é apenas a desadaptação da imaturidade ou a influência dissociativa e de distorção que a ignorância tem. O mal é a escuridão inevitável que persegue os passos da pouca sabedoria, que rejeita a luz. O mal é aquilo que é escuro e inverdadeiro e, quando conscientemente abraçado e adotado, voluntariamente, transforma-se em pecado”.
“O teu Pai no céu, ao dotar-te com o poder de escolha entre a verdade e o erro, criou o potencial negativo do caminho positivo da luz e da vida; mas tais erros do mal são realmente inexistentes, até o momento em que uma criatura inteligente opta pela sua existência, quando escolhe de modo errado o seu caminho de vida. Então, tais males são potencializados até a categoria do pecado, pela escolha consciente e deliberada de uma criatura obstinada e rebelde. É por isso que o nosso Pai no céu permite que o bem e o mal estejam juntos até o fim da vida, da mesma forma que a natureza permite ao trigo e ao joio crescerem um ao lado do outro até a colheita.” Gádia havia ficado plenamente satisfeito com a resposta de Jesus à sua pergunta, após as subseqüentes discussões, quando então ficaram claros na sua mente os significados reais dessas importantes afirmações.