No começo desse ano, Jesus de Nazaré tornou-se profundamente consciente de que possuía um poder potencial muito vasto. Mas estava, do mesmo modo, plenamente convencido de que esse poder não devia ser utilizado pela sua personalidade de Filho do Homem, ao menos não até que a sua hora chegasse.
Nessa época Jesus falava pouco, mas pensava muito, sobre a relação com o seu Pai no céu. E a conclusão de todo esse pensar foi expressa certa vez na sua oração no topo da montanha, quando ele disse: “A despeito de quem eu seja e do poder que possa ou não exercer, eu tenho sempre sido, e sempre serei, submisso à vontade do meu Pai do Paraíso”. E ainda, quando esse homem caminhava por Nazaré indo e vindo do seu trabalho, era literalmente verdadeiro—naquilo que concernia a todo um vasto universo—que “nele estavam guardados todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento”.
Durante todo esse ano, os assuntos da família correram tranqüilamente, exceto no que se referia a Judá. Durante anos Tiago teve problemas com o mais jovem dos seus irmãos, que não estava inclinado a estabelecer-se para trabalhar e em quem não se podia confiar para participar das despesas da casa. Conquanto vivesse em casa, ele não estava consciente de que devia ganhar a sua parte para a manutenção da família.
Jesus era um homem de paz e, de tempos em tempos, ficava embaraçado com as explosões beligerantes e com os inúmeros rompantes patrióticos de Judá. Tiago e José eram a favor de expulsá-lo, mas Jesus não consentiria. Quando a paciência deles chegava aos limites, Jesus apenas aconselhava: “Sede pacientes. Sede sábios nos vossos conselhos e eloqüentes nas vossas vidas; que o vosso irmão mais jovem possa primeiro conhecer o melhor meio, e então que seja levado a seguir-vos”. O conselho sábio e afetuoso de Jesus impedia qualquer rompimento na família; eles permaneciam juntos. Mas Judá só serenou seus sentidos depois do seu casamento.
Apenas raramente Maria falava da futura missão de Jesus. Sempre que se fazia referência a essa questão, Jesus apenas respondia: “Minha hora ainda não chegou”. Jesus havia quase completado a difícil tarefa de desacostumar a sua família da dependência da presença imediata da sua personalidade. E estava preparando-os rapidamente para o dia em que iria deixar a sua casa de Nazaré, de uma forma segura, para dar início a uma atividade mais intensa como um prelúdio para a sua ministração real aos homens.
Vós nunca deveis perder de vista o fato de que a parte primordial da missão de Jesus, na sua sétima auto-outorga, deveria ser a aquisição da experiência, enquanto criatura, para a conquista da soberania de Nébadon. E ao colecionar essas experiências também ele faria a revelação suprema do Pai do Paraíso a Urântia e a todo o seu universo local. Em acréscimo a esses propósitos, também Jesus empreendeu a tarefa de desemaranhar os complicados assuntos deste planeta, sobretudo no que se relacionavam à rebelião de Lúcifer.
Nesse ano Jesus desfrutou de um tempo de lazer maior do que o de costume, e dedicou muito da sua folga para treinar Tiago a gerir a loja de reparos, e José na direção dos assuntos de casa. Maria percebeu que ele estava arranjando tudo para deixá-los. Deixá-los para ir aonde? Para fazer o quê? Ela havia já abandonado o pensamento de que Jesus poderia ser o Messias. E não conseguia compreendê-lo, simplesmente não podia alcançar nem penetrar o mistério da vida do seu filho primogênito.
Jesus passou um bom tempo, durante esse ano, individualmente com cada um dos membros da sua família. Ele os levaria para passeios longos e freqüentes à montanha e ao campo. Antes da colheita, levou Judá ao sul de Nazaré, até a casa de um tio fazendeiro, mas Judá não permaneceu muito tempo ali, depois da colheita. Ele fugiu, e Simão encontrou-o mais tarde com os pescadores no lago. Quando Simão o trouxe de volta para casa, Jesus teve uma conversa com o garoto fugitivo e, já que ele queria ser pescador, Jesus levou-o a Magdala e colocou- o sob os cuidados de um parente, um pescador; e, daquela época em diante, Judá trabalhou bastante bem e regularmente até seu casamento, continuando como pescador depois do seu casamento.
Afinal chegou o dia em que todos os irmãos de Jesus já haviam feito a escolha dos seus trabalhos, e das suas vidas, e estavam estabelecidos cada qual em seu trabalho. O cenário estava ficando pronto para que Jesus pudesse partir da sua casa.
Em novembro, aconteceu um duplo casamento. Tiago e Esta se casaram, e também Míriam e Jacó. Foi uma ocasião realmente cheia de alegria. Até a própria Maria, uma vez mais, estava feliz, salvo de tempos em tempos, quando se dava conta de que Jesus estava preparando-se para ir embora. Ela sofria, sob a carga de uma forte incerteza. Se Jesus apenas se assentasse e falasse livremente a ela, de tudo aquilo, como ele tinha feito quando era menino; no entanto, Jesus permanecia decididamente pouco comunicável; e mantinha-se em um silêncio profundo sobre o futuro.
Tiago e a sua esposa, Esta, mudaram-se para uma casa pequena e agradável, do lado oeste da cidade, presenteada pelo pai dela. Ao mesmo tempo Tiago continuava sustentando a casa da sua mãe, mas a sua cota foi cortada pela metade por causa do seu casamento, e José foi formalmente colocado, por Jesus, como o chefe da família. Judá estava agora enviando a sua parte de contribuição para a casa, todos os meses, fielmente. Os casamentos de Tiago e de Míriam tiveram uma influência bastante benéfica sobre Judá e, quando saiu para a pescaria, no dia do duplo casamento, ele assegurou a José de que podia confiar nele “para cumprir todo o meu dever, e mais, se for necessário”. E cumpriu a sua promessa.
Míriam vivia na casa de Jacó, que era contígua à de Maria; Jacó, o pai, havia sido enterrado com os seus antepassados. Marta tomou o lugar de Míriam no lar, e a nova organização já estava funcionando perfeitamente antes que aquele ano chegasse ao fim.
No dia seguinte àquele duplo casamento Jesus teve uma importante conversa com Tiago. Disse a Tiago, confidencialmente, que estava se preparando para deixar o lar. E presenteou Tiago com o título de posse total da loja de reparos; formal e solenemente ele abdicava-se de ser o chefe da casa de José e, de um modo bastante tocante, estabeleceu o seu irmão, Tiago, como o “chefe e protetor da casa do meu pai”. Jesus redigiu, e ambos assinaram, um acordo secreto no qual ficava estipulado que, como retorno pela dádiva da loja de reparos, Tiago assumiria daí em diante toda a responsabilidade financeira pela família, assim desobrigando Jesus de todos os compromissos posteriores quanto a essas questões. Depois que o contrato foi assinado, depois que o orçamento ficou arranjado e de um modo tal que todas as despesas da família seriam cobertas, sem qualquer contribuição de Jesus, Jesus disse a Tiago: “Mas, meu filho, eu continuarei a enviar a todos vós alguma coisa, todos os meses, até que a minha hora chegue. E o que eu enviar será usado por ti segundo as necessidades das ocasiões. Use as minhas economias para as necessidades da família ou para os prazeres, como julgares adequado. Use-as no caso de doença ou aplica-as para emergências inesperadas, que podem suceder a qualquer membro individual da família”.
E assim, dando-se como pronto para entrar na segunda fase da sua vida adulta, Jesus encontrava-se totalmente liberto da sua família, antes de ocupar-se publicamente dos assuntos do seu Pai.
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