O Filho encarnado passou pela meninice e experimentou uma infância sem nada de extraordinário. Então, emergindo daquele período de transição cheio de provações, entre a infância e a juventude, tornou-se o Jesus adolescente.
Nesse ano, alcançou a sua estatura física definitiva. Era um jovem formoso e viril. Tornou-se cada vez mais sóbrio e circunspecto, mas era compassivo e amável. Os seus olhos eram doces, mas inquisidores; o seu sorriso era sempre simpático e calmo. A sua voz era musical, mas autoritária; a sua saudação cordial, sem afetação. Sempre, mesmo no mais comum dos contatos, parecia evidenciar- se uma natureza dupla, a humana e a divina. E, sempre, demonstrava a combinação da compaixão do amigo e a autoridade do mestre. E esses traços de personalidade cedo se tornaram manifestos, mesmo nos anos adolescentes.
Esse jovem forte e robusto fisicamente também teve o crescimento pleno do seu intelecto humano; não a experiência total do pensamento humano, mas a plenitude da capacidade para o desenvolvimento intelectual. Ele possuía um corpo saudável e bem proporcional, uma mente penetrante e analítica, uma disposição simpática e gentil, um temperamento flutuante, de um certo modo, mas ativo, e tudo isso estava tornando-se organizado em uma personalidade forte, tocante e atraente.
Com o tempo, tornou-se mais difícil para sua mãe e para seus irmãos compreendê- lo; eles tropeçavam no que ele dizia e interpretavam mal o que fazia. Não estavam preparados para compreender a vida do irmão mais velho, porque a sua mãe havia dado-lhes a entender que Jesus estivesse destinado a tornar-se o libertador do povo judeu. Depois que essas indicações foram dadas por Maria como uma confidência de família, imaginai a confusão deles quando Jesus negava francamente todas essas idéias e intenções.
Nesse ano, Simão entrou para a escola, e foram obrigados a vender outra casa. Tiago, agora, encarregava-se de ensinar as suas três irmãs, duas das quais tinham já idade suficiente para começar a estudar seriamente. Tão logo Rute cresceu, foi confiada às mãos de Míriam e de Marta. Comumente as meninas das famílias judias recebiam pouca educação, mas Jesus era da opinião (com o que a sua mãe concordava) de que as meninas deviam ir à escola como os garotos e, já que a escola da sinagoga não as receberia, nada havia a fazer senão dar aulas especiais em casa para elas.
Durante esse ano, Jesus ficou confinado à sua bancada de trabalho. Felizmente tinha bastante trabalho; e o que fazia era de uma qualidade tão superior que nunca ficava sem ter o que fazer, não importa quão escasso ficasse o trabalho naquela região. Por vezes tinha tanta coisa para fazer que Tiago lhe ajudava.
Lá pelo fim desse ano ele havia já decidido que, depois de criar todos e de vê-los casados, iniciaria publicamente o seu trabalho de mestre da verdade como um revelador do Pai celeste ao mundo. Sabia que não iria tornar-se o esperado Messias judeu, e concluiu que era quase inútil discutir essa questão com sua mãe; e decidiu permitir-lhe alimentar as idéias que quisesse, pois tudo o que ele havia dito no passado pouco ou nenhum efeito tivera sobre ela, além do que se lembrava de que o seu pai nunca tinha sido capaz de dizer nada que mudasse a opinião dela. Desse ano em diante, ele passou a falar cada vez menos com a sua mãe e com todos os outros, sobre os seus problemas. A sua missão era tão singular que a nenhum ser vivo na Terra era possível dar-lhe conselhos sobre como cumpri-la.
Ainda que muito jovem, era um pai real para a família; passava cada hora possível com os mais jovens e, de fato, eles o amavam. Sua mãe afligia-se de vê- lo trabalhando tão duramente; lamentava que ficasse, dia após dia, labutando na bancada de carpinteiro, ganhando a vida para a família, em vez de estar, como tão carinhosamente haviam planejado, em Jerusalém estudando com os rabinos. Mesmo havendo tanta coisa no seu filho que Maria não conseguia entender, ela o amava e apreciava profundamente a boa vontade com a qual ele assumia a responsabilidade da casa.