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A Realidade da Experiência Religiosa

9. A Essência da Religião

103:9.1

A teologia lida com o conteúdo intelectual da religião; a metafísica (e a revelação) com os seus aspectos filosóficos. A experiência religiosa é o conteúdo espiritual da religião. Não obstante os caprichos mitológicos e as ilusões psicológicas, no conteúdo intelectual da religião, os pressupostos metafísicos de erro e as técnicas de auto-enganação, as distorções políticas e as perversões socioeconômicas do conteúdo filosófico da religião, a experiência espiritual da religião pessoal permanece genuína e válida.

103:9.2

A religião tem a ver com o sentimento, com a ação e a vivência, não meramente com o pensamento. O pensar é relacionado mais de perto com a vida material e deveria estar, principalmente, mas não totalmente, dominado pela razão e pelos fatos da ciência e, nos seus alcances não-materiais, até os reinos do espírito, pela verdade. Não importa quão ilusória e errônea seja a teologia de alguém, a sua religião pode ser totalmente genuína e verdadeira para sempre.

103:9.3

O budismo, na sua forma original, é uma das melhores religiões sem um Deus, entre as que já surgiram em toda a história evolucionária de Urântia, embora, ao se desenvolver, essa fé não tenha permanecido sem um deus. A religião sem fé é uma contradição; sem Deus, é uma inconsistência filosófica e um absurdo intelectual.

103:9.4

A paternidade mágica e mitológica da religião natural não invalida a realidade e a verdade das religiões reveladoras posteriores, nem o consumado evangelho da salvação da religião de Jesus. A vida e os ensinamentos de Jesus finalmente livraram a religião das superstições da magia, das ilusões da mitologia e da prisão do dogmatismo da tradição. Contudo, a magia e a mitologia primitivas prepararam, muito efetivamente, o caminho para a religião superior subseqüente, assumindo a existência e a realidade dos valores e dos seres supramateriais.

103:9.5

Embora a experiência religiosa seja um fenômeno subjetivo puramente espiritual, essa experiência abrange uma atitude positiva e vivencial de fé para com os reinos mais elevados da realidade objetiva do universo. O ideal da filosofia religiosa é essa fé-confiança que leva o homem irrestritamente a depender do amor absoluto do Pai infinito do universo dos universos. Tal experiência religiosa genuína em muito transcende à objetivação filosófica do desejo idealista; de fato, ela toma a salvação como garantida e preocupa-se apenas em aprender a cumprir a vontade do Pai do Paraíso. Os sinais dessa religião são: a fé em uma Deidade suprema, a esperança na sobrevivência eterna, e o amor, especialmente o dos semelhantes.

103:9.6

Quando a teologia chega a ter a religião sob controle e mestria, a religião morre engolfada; torna-se uma doutrina, em vez de uma coisa viva. A missão da teologia é meramente facilitar a autoconsciência da experiência espiritual pessoal. A teologia constitui o esforço religioso para definir, elucidar, expor e justificar as proposições experienciais da religião, que, em última análise, apenas podem ser validadas pela fé viva. Na filosofia mais elevada do universo, a sabedoria, como a razão, torna-se uma aliada da fé. Razão, sabedoria e fé são realizações das mais elevadas do homem. A razão introduz o homem no mundo dos fatos, das coisas; a sabedoria o introduz no mundo da verdade, das relações; a fé inicia-o em um mundo de divindade, de experiência espiritual.

103:9.7

A fé leva voluntariamente a razão tão longe quanto a razão pode ir e continua com a sabedoria até o limite filosófico pleno; e então ela ousa lançar-se na viagem interminável e sem limites do universo, na companhia apenas da verdade.

103:9.8

A ciência (o conhecimento) funda-se na suposição inerente (do espírito ajudante) de que a razão seja válida, de que o universo pode ser compreendido. A filosofia (a compreensão coordenada) funda-se na suposição inerente (do espírito da sabedoria) de que a sabedoria seja válida, de que o universo material possa ser coordenado ao espiritual. A religião (a verdade da experiência espiritual pessoal) funda-se na suposição inerente (do Ajustador do Pensamento) de que a fé seja válida, de que Deus pode ser conhecido e alcançado.

103:9.9

A realização plena da realidade da vida mortal consiste em uma vontade progressiva de acreditar nessas suposições da razão, da sabedoria e da fé. Tal vida é motivada pela verdade e dominada pelo amor; e esses são os ideais da realidade cósmica objetiva, cuja existência não pode ser materialmente demonstrada.

103:9.10

Uma vez que a razão reconhece o certo e o errado, ela demonstra sabedoria; quando a sabedoria escolhe entre o certo e o errado, entre a verdade e o erro, ela evidencia haver sido conduzida pelo espírito. E, assim, são as funções da mente, da alma e do espírito, sempre unidas intimamente e interassociadas funcionalmente. A razão lida com o conhecimento factual; a sabedoria, com a filosofia e com a revelação; a fé, com a experiência espiritual viva. Por intermédio da verdade, o homem alcança a beleza; pelo amor espiritual, ascende à bondade.

103:9.11

A fé conduz ao conhecimento de Deus, não meramente a um sentimento místico da presença divina. A fé não deve ser excessivamente influenciada pelas suas conseqüências emocionais. A verdadeira religião é uma experiência de crer e conhecer, tanto quanto uma satisfação de sentimento.

103:9.12

Há uma realidade na experiência religiosa que é proporcional ao seu conteúdo espiritual, e tal realidade transcende à razão, à ciência, à filosofia, à sabedoria e a todas as outras realizações humanas. As convicções de tal experiência são incontestáveis; a lógica da vivência religiosa é incontroversa; a certeza desse conhecimento é supra-humana; as satisfações que advêm são magnificamente divinas; a coragem, indomável; as devoções, inquestionáveis; as lealdades, supremas; e os destinos, finais—eternos, últimos e universais.

103:9.13

[Apresentado por um Melquisedeque de Nébadon.]


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